segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

SOMBRAS



Acabei de jantar e ando meio angustiado. Acabei de lavar a louça e vi uma estrela cadente, caindo finamente pelo céu escuro. Até seu fogo apagar, evaporar, deixar de existir.
Tenho medo dos meus sentimentos. Muitas vezes eles tentam dizer algo para mim e eu não entendo. Sei que não me esforço o suficiente para compreender a língua deles. Eu deveria estudar mais. Ando tendo muitos pesadelos, ouvindo barulhos que não existem em meu quarto, o lençol sendo puxado para debaixo da minha cama, levando meu corpo junto e eu sem forças para gritar. Sempre quando acontece isso lembro que não falo, que não tenho vozes. Lembro-me primeiro em chamar pela minha mãe e depois me lembro que sou mudo.
Também sou perseguido por sombras. Em todos os momentos solitários de minha vida sou sobressaltado por um movimento escuso. Tento firmar meus olhos e não consigo ver. Sei que algo passou por aquele canto e foi tão rápido que não consegui registrar o que era. Sombras me perseguem e isso está se tornando corriqueiro.
Quais serão as mensagens que preciso compreender? Será realmente que eu não consigo ler? Estou ficando doido? Mas eu já sou esquizofrênico, não sou? Temo pela minha família, não por mim. Não tenho medo de ir. Tenho medo de ficar. Ficar é mais doloroso. Não quero ver ninguém partir. E nisso eu realmente sou egoísta. Eu não quero ficar.
Não temo o sofrimento, se o sofrimento me levar de imediato. Mas não é esse o objetivo de todos os sofrimentos. Eles são sádicos e procuram provocar dor de forma mínima e contínua.
Os fantasmas continuam me perseguindo. Há sombras em minha casa, apesar de não ouvi-las mais. Será que além de mudo agora sou surdo? Tenho medo. Não por mim. Mas tenho medo.

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