quarta-feira, 25 de novembro de 2009

NOSSO MUNDO VIRTUAL

A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA – MOACIR SCLIAR.


A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA – MOACIR SCLIAR.

COMPANHIA DAS LETRAS, SÃO PAULO, SP – 2007

A primogênita feia de um patriarca do deserto torna-se uma das setecentas esposas do sábio rei Salomão. Sua feiúra, no entanto, é um grande obstáculo para a real consumação do matrimônio, o que a deixa pavorosa. Mas uma qualidade a destoa de todas as outras: sabe ler e escrever. Salomão, ao saber do raro dom da mulher – o que era inaceitável para os padrões carcomidos da época -, incumbe a feia de redigir, com sua impecável estilística, a história que consagrará eternamente o rei – A Bíblia.

Entre a missão literária e seus desejos libidinosos, a feia tornará o palácio do filho de Davi palco de muitas confusões.

Moacyr Scliar oscila entre o cômico e o trágico, num “linguajar” surpreendente, provocativo e atual. “A Mulher que escreveu a Bíblia” é um romance que deve ser lido com paixão e, com repulsa, repudiado. O texto é bom. Provoca-nos, independente das crenças, princípios ou morais que acreditamos ser guardiões.

PROFESSOR VALDIR LOPES

POLÍGONO DAS SECAS – DIOGO MAINARDI.




RESENHA

POLÍGONO DAS SECAS – DIOGO MAINARDI.

RECORD, RIO DE JANEIRO, RJ – 2006

Polígono das secas é uma tentativa pretensiosa de desmitificar o regionalismo modernista com uma descrição do homem nordestino num realismo brutal.

Num enredo fantástico, porque fantasia, o untor purulento (que pode ser intertextualidade da morte, do destino ou do próprio autor) despe a visão romântica que se tem do homem nordestino difundida pela literatura de Graciliano Ramos, Euclides da Cunha e outros. O Romance quer ser desmascarador. Numa tentativa de mostrar o homem no limite da humanidade à beira da bestialidade sem um retorno consolador, porque num polígono da seca não há destino a não ser aquele traçado pelo untor.

É provocativo no sentido de desconstruir os paradigmas da literatura regionalista, mas não consegue desmitificar o personagem nordestino, que apesar do realismo caricatural, não deixa de ser “o forte”.

É desprezível pela sua ferina crítica para quem não dispensa o engodo da fantasia para suportar a vida e imprescindível ao remexer e subverter concepções. Não tem como ignorar aquilo que mexe com nossos princípios e crenças.

Manoel Vitorino (o sertanejo que enterra o filho), Januário Cicco (o vaqueiro mutilado pelos caprichos do latifúndio), Piquet Carneiro (herói negativo metamorfoseado) e Demerval Lobão (miserável que luta para manter a numerosa família) somos nós em nossa miséria humana desencaNtada, desmitificada. Não posso negar uma paixão por Piquet Carneiro que escancara a nossa animalidade kafkaniana. Esses antagonistas arrastam-nos em busca do untor que dissemina a morte por todo o nordeste na insana ânsia de uma Catarina Rosa. Você conhece uma?

PROFESSOR VALDIR LOPES

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DE VOLTA À INFÂNCIA


As crianças têm necessidade imperiosa de comunicar-se. Quando descobre, então, a fala, é como ganhasse um presente de dimensão sem cálculo. Esse poder, as crianças levarão a última conseqüência. De posse desse poder, as crianças descobrem o mundo interno e externo. Torna-se participante. É preciso testar o alcance do poder adquirido. Tudo se torna palavras sonoras já que perceberam que assim, melhor compreendidos, sua comunicação torna-se eficaz. Todo sentimento torna-se palavras sonoras. Se escrevessem seriam poetas? Aliás, a poesia não se restringe a escrita. Como exemplo os trovadores. Crianças são trovadores que cantam a vida. Os melhores comunicadores são crianças. Mesmo mudas, comunicam-se. E até mudas, por alguma fatalidade daquilo que os adultos chamam de destino, elas produzem comunicação. A criança em sua motricidade é comunicação, em sua essência é comunicação.

Mas quando chega a idade madura, deixamos a fala de lado. Acreditamos que meias palavras ou palavras e meia são suficientes. Deixamos a mobilidade para sermos imóveis na estúpida justificativa de manter a energia. Para não perder a energia, para preservar, para não gastar. Dizem que um ponto já é um conto. Incerto. Outros acreditam que o olhar é tudo, um pequeno gesto. O que nos dá, diferentemente das crianças, é uma preguiça mental ou um descrédito a esse fabuloso instrumento, a voz. A nossa fé diminuta no poder de criação, que somos, é nossa falta de ação. Enfim, adultos não se comunicam como crianças, e são ineficientes, não se comunicam com as crianças. Deve ser por isso que muitos de nós não suportamos os trinados infantis, as canções pueris.

Como é sábio o conhecimento cristão. Só merece o reino quem se assemelha a esses pequeninos. De fato, quanto mais se afasta do poder maravilhoso da infância, mais se perde do fabuloso mistério de ser humano.

Não pode trabalhar com uma criança quem não entende esse maravilhoso universo vivido por elas. Da mesma forma não pode lidar com uma criança quem não a compreende por toda sua completude.

Assim, fica subentendido, que para se ter uma criança ao lado precisa ser como ela, falar como ela, comunicar como ela, viver como ela.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

DIÁRIO DE SALA: 5ª B 15/09/2009


2009-09-15 12:36

Cada dia que passa vou me convencendo que é impossível administrar aulas em algumas escolas. As condições vão se deteriorando cada vez mais. Salas com 30 ou até 38 alunos. A maioria não interessada em participar ou ouvir a proposta do professor. Consequentemente o professor é desconsiderado dentro da sala de aula, principalmente os chamados eventuais. Nós, eventuais, somos para os alunos (em sua grande maioria) casos passageiros, sem conta. Os conteúdos que, por ventura, administraremos não tem muita importância - não para a formação pessoal - para o acumulo de ponto que os promoverão para as séries seguintes. Interessam-lhes as pilhérias, as correrias, as gozações mútuas, as competições de força ou beleza, a sacaneações, a "tirada" no professor entre outras. Talvez o professor titular tenha melhores ambientes e assim possa trabalhar. Mas não acredito numa mudança radical de ambiente. Sei que o quadro é desolador tanto para os eventuais como para os titulares.

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

PROFESSORES - ODISSÉIA




COMENTÁRIO SOBRE "CARROÇA VAZIA"

Não poderia deixar de publicar esse pequeno texto "CARROÇA VAZIA" que recebi por e-mail de vários amigos. As reflexos populares que pulululam pela internet são obras de uma consciência coletiva que vem se formando por meio da rede. É preciso estar atento para essa nova ordem de conhecimento. Será?
Específicamente sobre o texto (de sabedoria imensa), às vezes, em nosso cotidiano, encontramos muitas carroças vazias. O que me preocupa é se um dia, ou dias que virão, fui (ou serei) uma carroça vazia.

Carroça Vazia

Certa manhã, meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou:

- Além do cantar dos pássaros, você esta ouvindo mais alguma coisa ?

Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:

- Estou ouvindo um barulho de carroça.

- Isso mesmo, disse meu pai, é uma carroça vazia.

Perguntei ao meu pai:

- Como pode saber que a carroça esta vazia, se ainda não a vimos ?

- Ora, - respondeu meu pai. - É muito fácil saber que uma carroça esta vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça maior é o barulho que faz.

Tornei-me adulto, e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), ou tratando o próximo com grossura inoportuna, prepotente, interrompendo a conversa de todo mundo e, querendo demonstrar que é a dona da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo: 'Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...'

Autor desconhecido.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

SILÊNCIO

Parece-me que não há mais lugar nenhum onde se possa encontrar o silêncio. Espécie em extinção, um ambiente silencioso passa a ser uma ameaça para muitas pessoas.
Num mundo rápido e conturbado, incomodam ambientes e pessoas silenciosas. Essas pessoas, que cultivam a saudosa arte de ficar quietas, são tratadas como portadoras de distúrbios gravíssimos, o que as tornam perigosas para a manutenção do cotidiano, para a sociedade. Ou, de forma mais branda, um antipático, mal-educado, pretensioso.
Além do mundo externo não suportar o silêncio, cada dia mais acredito que o mundo interno das pessoas também não suportam. E mais, acredito que o primeiro é reflexo fiel do segundo caso. E para não se encontrar sozinho com seu próprio interior, é necessário barulho.
Pegue exemplos bobos, como estar sentado, em silêncio, lendo um bom livro quando alguém, no afã de ser caridoso, cordial ou amoroso, vem blindar-nos com uma palavrinha amiga ou mais. Perguntar se o livro ou a leitura está proveitosa. E daí para outras palavrinhas não há obstáculo, chove assunto e escorre a paciência e a vontade de continuar lendo. Mesmo com um claro "hum hum" de enfadonho, o nosso amigo comunicativo prossegue em sua epopeia. Então o paraíso fenece. Se o leitor for uma pessoa educada e paciente, tentará tratar com a devida atenção e respeito ao interlocutor. Caso contrário, sabe lá Deus quantas reações grosseiras poderia se ter. Num elevador, duas pessoas e um silêncio gostoso onde os pensamentos podem trabalhar, apesar do barulhinho inconfundível da máquina. Mas para quebrar tal quietude, um assovio aparece não se sabe de onde e depois uma melodia e, quando se vê, o companheiro do lado está cantarolando e, chateado, reclama por que da demora de chegar ao andar. E se lá fora chove ou não. Se as flores que carrego é para a jovenzinha do quinto andar, se não me conhece de algum lugar distante na infância. Uma garota, em seu momento de descanso e relaxamento, senta num banquinho da praça, fecha os olhos, cabeça inclinada para o alto respira profundamente em busca dos aromas das flores próximas, muitos pensamentos se formam e ela procura organizá-lo para ponderar um por um. Mas percebe-se vigiada e num repente ouve. "Olá, tudo bem? O que anda fazendo por aqui?
É quase insuportável as inúmeras vezes em que se pretende aproveitar um momento de silêncio para poder se encontrar e aparece uma alma caridosa para nós tirar da solidão. Minha teoria é que as pessoas não só tem medo de solidão, mas isso virou uma histeria. Os ruídos, barulhos, sons, gritarias, conversas, discussões - e outros tantos - são as armas de uma sociedade moderna para fugir de si própria e não entrar em contato com a própria consciência. Vai que ela queira repreender o cidadão por um determinado ato que fez questão de (tentar) esquecer. Talvez, fugir do silêncio é fugir do julgamento moral que nos fazemos constantemente
O silêncio pode ser um indicativo de culpa? Não! De reflexão. Vivemos num mundo onde ninguém quer refletir. E claro, para usufruir da arte de reflexão é necessário entrar em contato direto com seu eu interior, indagar, repensar, criar e discutir internamente. Para isso é necessário silêncio. Já tentou refletir com alguém do seu lado assoviando hino esportivo? Não dá. Ler numa sala onde o companheiro gosta de mostrar seus dotes artísticos musicais ou sua retórica não dá.
No mais, continuo procurando um lugarzinho, escondido e silencioso onde eu e eu possamos nos encontrar. Espero que esse ninho não seja o túmulo, porque lá já não quero mais refletir, já não quero mais pensar. Somente dormir.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

RETORNO

Retornar ao meu blog, sem dizer o motivo do abandono, é um tanto estranho. Mas vou dizer que esqueci e até mesmo perdi a noção de que tinha um blog na rede, com intenções claras de uso e pretenções de discussões. Quem sabe, após esse retorno, eu consiga cumprir com o que havia prometido na minha primeira carta. De fato, se tenho um espaço na internet, mesmo que ninguém leia, devo usá-lo. Com o que e para que, não sei. Quando chegar a hora e o momento da escrita, escreverei